Nessa idade

Com a minha idade, me sinto mais bonita, sexy, ativa e mais espetacular a cada dia que passa. Mentira. Com a minha idade, me sinto exatamente com a idade que tenho, nem um ano a menos.

Quase diariamente, fico cansada, mais do que eu ficava anos atrás. O que mais me cansa é ouvir que eu deveria me importar com a idade. Não ouço isso literalmente, mas é como se fosse. Às vezes, me olho no espelho e tento achar as rugas que tantas mulheres estão vendo em si mesmas. Só vejo marcas por onde passam o meu sorriso e as minhas preocupações. Não consigo enxergar essa urgência em resolve-las.

Vejo sorrisos fartos, barriga farta, porque nesse verão não consegui me livrar dela a tempo. Vejo uma mente cheia de ideias, embora minha conta bancária não esteja com a fartura que imaginei para essa idade.

Me vejo quase deusa no papel de mãe e, ao mesmo tempo ou no mesmo dia, uma prisioneira nas fragilidades que eu não queria ter ou ver. Mesmo assim, me leio, me escrevo, me farto. Me vejo mais. Nessa idade.

Vejo as palavras que vão escrevendo o que eu sempre sentia, mas não via. Elas não escrevem os números que essa idade carrega, elas despejam toda a vida que me permiti sentir e não sentir nesse período já considerado velho.

Vejo o mundo por ângulos que não o valorizam, cruéis até, mas não consigo desver. Para escrever, desnudo a realidade da roupa de sair. Mas nunca me preparo o suficiente para a dor e o prazer que isso dá.

E sinto. E sinto muito. Sinto tanto que preciso escrever.

Nessa idade.